"Eu sou a tua Morte..."

• Legião Urbana - La Maison Dieu

Em Julho de 1997 estava sendo lançado o último álbum de estúdio da Legião Urbana, meses após a morte de Renato Russo. "Uma Outra Estação" reúne canções que não foram lançadas no álbum anterior, onde gostaríamos de destacar uma grande composição de Renato Russo e sua visão crítica, porém não muito conhecida.

"La Maison Dieu" é a quarta canção do álbum e traz uma crítica aos militares e ao que ocorreu na época do regime militar no Brasil, como violência, tortura, censura e opressão. O interessante dessa música é que assim como outras composições de Renato Russo, há todo um significado por trás da letra e apresenta uma música de conteúdo profundo. Em seu protesto, percebemos um tom de revolta ao criticar a tortura e a ação dos militares da época que oprimiam as pessoas, sendo citados na música como "uma revolução de merda , de generais e de um exército de merda" e mostrando um rancor no trecho que diz que "nunca poderemos esquecer, nem devemos perdoar". A letra ainda cita "Eu não anistiei ninguém" talvez apontando que a população não teve participação nessa decisão. Interessante notar que o trecho "Abra os olhos e o coração, estejamos alertas porque o terror continua, só mudou de cheiro e de uniforme" ainda se aplica atualmente, pois a realidade é que nada mudou e a opressão continua mas por outros meios. As letras do Renato Russo sempre foram abertas para que cada pessoa refletisse e chegasse a uma conclusão, sendo "La Maison Dieu" uma música intensa com objetivo de nos fazer refletir com uma letra de qualidade, se mostrando diferente da música vazia, inútil tocada atualmente que desaparece de forma rápida.

     Espero que gostem de nossa primeira indicação aqui no Top Músicas, em breve postaremos mais sobre Legião Urbana e muitas outras bandas e deixem sua opinião e dicas nos comentários.

Legião Urbana - La Maison Dieu

Letra

Se dez batalhões viessem à minha rua
E vinte mil soldados batessem à minha porta
À sua procura
Eu não diria nada
Porque lhe dei minha palavra

Teu corpo branco já pegando pêlo
Me lembra o tempo em que você era pequeno
Não pretendo me aproveitar
E de qualquer forma quem volta
Sozinho p'rá casa sou eu

Sexo compra dinheiro e companhia
Mas nunca amor e amizade, eu acho
E depois de um dia difícil
Pensei ter visto você
Entrar pela minha janela e dizer 

 Eu sou a tua morte
Vim conversar contigo
Vim te pedir abrigo
Preciso do teu calor

Eu sou
Eu sou
Eu sou a pátria que lhe esqueceu
o carrasco que lhe torturou
o general que lhe arrancou os olhos
o sangue inocente
de todos os desaparecidos

O choque elétrico e os gritos 

Parem por favor, isso dói

Eu sou
Eu sou
Eu sou a tua morte
Vim lhe visitar como amigo
Devemos flertar com o perigo
Seguir nossos instintos primitivos
Quem sabe não serão estes
Nossos últimos momentos divertidos?

Eu sou a lembrança do terror
De uma revolução de merda
De generais e de um exército de merda
Não, nunca poderemos esquecer
Nem devemos perdoar
Eu não anistiei ninguém

Abra os olhos e o coração
Estejamos alertas
Porque o terror continua
Só mudou de cheiro
E de uniforme

Eu sou a tua morte
E lhe quero bem
Esqueça o mundo, vim lhe explicar o que virá
Porque eu sou, eu sou, eu sou

Fonte: Vagalume

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